Labirinto ♥

“Muitas vezes, jovenzinha, parece que não estamos
chegando a lugar algum quando, na verdade, estamos.”
[Labirinto, p. 86]

Por incrível que pareça, eu ainda não conhecia Labirinto, filme de Jim Henson – com David Bowie e Jennifer Connelly –, estreado há trinta anos atrás. Mas garanto que não demorou muito para encantar-me com a história, tão logo iniciei a leitura da adaptação feita por A. C. H. Smith e publicada aqui no Brasil pela editora DarkSide Books.

O que eu posso adiantar é que já estou morrendo de saudades dos personagens os quais acompanhei nessa maravilhosa jornada encantada.

ISBN: 978-85-9454-009-6 | DarkSide Books | 272 páginas | 21,4 x 14,4 x 2,4 cm | 2016

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Sabe aqueles livros em que o narrador conversa com você de uma maneira tão próxima que parece que ele segura na sua mão e te insere exatamente no universo em que a história acontece? É exatamente isso que Smith faz com a gente em Labirinto.

E quando eu falo que o autor conversa com o leitor, é no sentido exato da afirmação; isso fica muito claro em uma passagem da página 125:

“O barulho era tão nojento que não se podia descrever. O substantivo borborigmo, tão raramente usado, é inadequado. Outros analistas foram levados a cunhar o termo visceral, após perceberem que viscoso e mucilaginoso não evocavam em seus leitores nada com o grau apropriado de repugnância.
Se, porém, é quase impossível descrever o barulho, que esperança pode haver de encontrarmos, em qualquer dicionário, um adjetivo para o cheiro? Um escritor abordou o problema desta forma: ‘Se você resgatar a lembrança dos três piores fedores que já o incomodaram, leitor de narinas sensíveis, imaginá-los elevados à sétima potência, em seguida intensamente concentrados em uma pequena, mas curiosamente poderosa bomba de ar, mantida a dois centímetros e meio de seu rosto e movida por uma ventoinha, você talvez não tenha conseguido chegar ao final desta frase devido às lágrimas que traz nos olhos, tamanha é a hediondez de tal odor.” [p. 125]

Sim, Smith pausa a narrativa e entra com essa indagação/explicação e depois, de maneira majestosa, continua com a trama; e isso é um dos fatores que fizeram com que eu me sentisse próxima de uma maneira muito real – dentro das possibilidades da literatura – ao narrador, à história e à tudo o que nela existe.

Quem faz muito essa conversa entre narrador e leitor é Tolkien, em O Hobbit !! Eu acho sensacional. ♥

E o que é mais incrível ainda no texto de Smith é que, mesmo narrado em terceira pessoa, nós sabemos exatamente o que se passa na mente de Sarah, nossa protagonista.

Quando os desafios vão surgindo ao longo do caminho, nós viajamos dentro de seus pensamentos e passeamos por todas as possibilidades possíveis de escolhas e as consequências que cada uma apresentará. O raciocínio dela é muito divertido !!

Outro aspecto que me encantou foram as criaturas que Sarah foi encontrando em sua jornada e o quão enroladas elas foram !! Sabe quando se tenta ajudar, mas sempre acaba atrapalhando demais ?! É isso !! Labirinto também me garantiu risadas gostosas.

No mais, por trás da jornada de Sarah, a mensagem que fica é sobre a compreensão de pontos de vista diferentes dos nossos – o que a gente precisa aprender urgentemente nos dias de hoje em que não se pode opinar sobre determinados assuntos sem que facilmente vire alvo de agressão – e sobretudo, sobre o perdão.

É uma história linda, linda, linda. ♥

E eu falei, falei, falei, mas ainda não contei sobre o que se trata a história em si, não é mesmo ?! Mas foi assim que o sentimento foi me levando a escrever esse texto…

“Afinal (…), a vida é uma espécie de labirinto, com todas as suas voltas e reviravoltas, seus caminhos retos e seus becos sem saída.” [Jim Henson, p. 220]

Ainda em tempo, Labirinto vai nos contar a história de Sarah, uma garota de 15 anos que foi abandonada pela mãe – ela optou viver como atriz viajando mundo afora – e que mora com seu pai, sua madrasta e Toby – um bebê ainda de colo e seu irmão por parte de pai.

Nutrindo um sonho de seguir o mesmo caminho que a mãe, Sarah passa seus dias interpretando histórias e falas do livro Labirinto. Chateada por ter que cuidar de seu irmão enquanto os pais saem de casa, a protagonista acaba invocando, através de um trecho do livro, o Rei dos Duendes e pedindo-lhe que leve Toby com ele.

Tão logo o fato se concretiza, Sarah arrepende-se e implora para que Jareth não leve seu irmão e nem o prenda em seu castelo.

Acreditando ser impossível – afinal, ninguém chegou tão longe -, o Rei dos Duendes lança um desafio para a garota e dá-lhe 13 horas para que ela decifre e atravesse o Labirinto, entre na Cidade dos Duendes e encontre o Castelo para além da cidade. Caso ela não consiga, Jareth transformará Toby em duende.

E assim começa a busca desenfreada de Sarah pelos caminhos tortuosos do Labirinto. O grande problema é que, cada ser no reino de Jareth age sempre de acordo com interesses pessoais, atos calculados, egoístas; nunca por bondade ou doação.

Então, imagina os problemas que ela vai encontrar !!

Com uma mistura de Alice no País das Maravilhas e O Mágico de Oz, Smith nos conduz por um caminho repleto de magia e encanto e, aos poucos, vai nos aproximando do coração de cada personagem.

E que personagens cativantes !! Hoggle, um duende mesquinho que nunca encontrara um amigo verdadeiro na vida; o Senhor Dídimo, que mais parece um Dom Quixote em questão de bravura; e o doce Ludo, um monstro assustador com grande coração de manteiga. E Sarah !! Claro !! Que amadurece de maneira inspiradora ao longo de sua busca por Toby.

Sim, o leitor vai ficar com saudades desses amigos que ele encontra em Labirinto, ao chegar nas últimas páginas dessa história.

“Muitas vezes, jovenzinha, parece que não estamos chegando a lugar algum quando, na verdade, estamos.” [p. 86]

“A garota recordou uma frase de um livro, frase essa que certa vez a mãe lera para ela em voz alta, como gostava de fazer quando algo lhe chamava atenção: Cuidado com o que você diz a um mendigo: ele pode ser Deus disfarçado.” [p. 89]

“Talvez apenas se divertir fosse o melhor que qualquer um pudesse esperar.” [p. 119]

“Se és medroso ou se te dissuades facilmente, então que teu joelho jamais se curve para receber a espada da honra sobre teu ombro covarde.” [p. 142]

“Enfrentando perigos indizíveis e dificuldades sem conta (…), lutei para percorrer o caminho até aqui, ao castelo para além da Cidade dos Duendes, para levar de volta a criança que você roubou…” [p. 157]

“Às vezes, (…) precisar é… deixar ir.” [p. 190]

Labirinto tem capa dura revestida com soft touch, verniz localizado na moldura com rosas – e em todos os elementos pretos – e hot stamp dourado no título do livro e na logo da editora. Um amor só.

Além da trama principal, o livro conta com uma incrível Galeria de Imagens de Brian Froud com seus desenhos conceituais elaborados para o filme, nunca antes publicados; um texto de Karen Falk, diretora de arquivos da Jim Henson Company contando sobre as primeiras ideias do filme; e o próprio diário de criação de Jim Henson, todo em inglês e com sua caligrafia ♥ – pena que não tem a tradução -.

Por fim temos as mini biografias de Jim Henson, A. C. H. Smith e Brian Froud. ♥

As páginas são amareladas – em papel pólen -, a diagramação do texto é muito boa, com margem espaçosa, tamanho da fonte bem confortável, assim como o espaçamento entre as linhas, tornando a experiência de leitura muito aconchegante.

A edição de Labirinto está muito linda !! E, para completar, eles capricharam demais no marcador de páginas que vem dentro do livro:

Para os parceiros, a DarkSide Books enviou de presente um brinquedinho:

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É isso pessoal… Quem já leu o livro? Quem ficou com vontade de conhecer Labirinto ?! Me contem, por favor, aqui nos comentários, eu adoraria conhecer a opinião de vocês ♥ !!

Espero que tenham gostado do post de hoje.
Muito obrigada por acompanharem até aqui.

Com muito carinho ♥,
Juliana Fiorese.

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